JORNAL O SAMBRASENSE
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5 de Fevereiro de 2025

Mensal, dia 20 | 1,50€ (c/IVA)
PRESIDENTE BRUNO SOUSA COSTA | DIRECTOR JOSÉ PEREIRA
CHEFE DE REDAÇÃO ISA VICENTE | PAGINADORA STEFANIE BOUCINHA

20 Novembro, 2024 | Entrevistas

CA(LE)JADOS DA TERRA

Os pastores são uma espécie de guardiões do tempo… não guardam apenas rebanhos… guardam histórias, tecidas com a sabedoria da vida… são Património Vivo da nossa terra…
Fomos atrás dos nossos pastores, para lhes prestar uma merecida homenagem…
Junte-se à conversa, mensalmente, na agenda “São Brás Acontece”; nos meios do município e nos jornais locais.
Convidamos também para um Encontro com os nossos pastores no dia 22 de novembro, pelas 18h00, na Galeria Municipal, para conhecer todas estas histórias num conjunto de documentários já realizados!
Este projeto da Câmara Municipal de São Brás de Alportel é desenvolvido em parceria com a associação local Barro i Cal, com criação de Ana Beatriz Bernardo de Jesus.

“A minha vida tem sido uma vida detrabalho, uma vida marfada. Olhe a minha família, quando eu nasci, 9 anos depois o meu pai morreu, fiquei só com a minha mãe, pronto a situação depois complica-se sempre, falta sempre, a falta de um pai é sempre uma grande falta. Eu não tive muito tempo para brincar, eu depois de sair da escola, tive que ir guardar vacas para comprar uma…bom a malta nova toda da minha idade já todos tinham uma “biciclete”, eu para arranjar fui guardar umas vacas, depois desse dinheiro que eu recebi comprei a tal bicicleta a pedal, para ir acompanhando as coisas. Andei à escola aqui, fi z o exame da terceira classe e fiz o exame da quarta classe depois na Angola, fui para a guerra.”

Manuel João Fortes é conhecido pelo seu restaurante/ taberna/ mercearia: o Fortes, desde 1974, e também pela sua famosa aguardente de medronho, criada e produzida nos

Parises e que acompanham sempre as deliciosas refeições caseiras cozinhadas pela sua Teresinha, como chama carinhosamente.

É comprador e vendedor de cortiça: “comprava aí, era fácil comprar, agora é difícil comprar e neste momento é difícil vender… Falou-me do incêndio de 2012: tão fui afetado, tão desapareceu tudo quanto eu tinha, se olhar aí para trás ainda vê as árvores todas tisnadas de preto, veio o fogo aí por todo o lado.”

Pastor por paixão… Desde sempre lidou com animais, teve desde vacas, cabras, e hoje em dia, tem ainda ovelhas, porcos e as caixas das abelhas para apovoar.

“Eu tenho umas ovelhas, mas não sou pastor, já tive mais, mas agora tenho aí umas dez ovelhas, dez borregos, uma coisa assim. É só por um bocadinho de amor à arte, porque sempre tenho tido ovelhas, vacas… Bom e a comichão das ovelhas, sempre vendi, eu andava por aí com uns amigos, eles compravam o gado e eu fazia o transporte, depois fiquei com aquela comechãnita, tá a ver?”

Aproximamo-nos das ovelhas e diz-me: “olhe esta já está preparada, esta é a puxadeira, é uma puxadeira, é uma puxadeira porquê? Que ela é a primeira, sempre em qualquer lado que está, ela é a primeira a arrancar, por isso é a puxadeira, entendido? Traz o rebanho todo atrás. Aqui está uma palha para se dar às ovelhas, aqui está uma lã, anda-se a tosquiar as ovelhas. Tem de se tosquiar para não fazer calor, porque é que você não anda vestida de verão como anda de inverno? Porque é que anda aí descascada por cima agora? Tem calor, agora agente também tem que tirar a lã das ovelhas, para elas estarem mais fresquinhas, correto?”

Perguntei-lhe se nunca vendia a lã, e respondeu que “por acaso esse negócio está muito mau a respeito da lã, porque antigamente vendiam-se as peles dos borregos, vendia-se a lã e agora ninguém quer a lã e ninguém quer as peles. E é por isso que eu vou a desistir, vou desistindo pouco a pouco, vou vendendo, e vou desistindo pouco a pouco, com muita pena minha porque sempre tenho tido ovelhas.”