Os pastores são uma espécie de guardiões do tempo… não guardam apenas rebanhos… guardam histórias, tecidas com a sabedoria da vida… são Património Vivo da nossa terra…
Fomos atrás dos nossos pastores, para lhes prestar uma merecida homenagem…
Junte-se à conversa, mensalmente, na agenda “São Brás Acontece”; nos meios do município e nos jornais locais.
Este projeto da Câmara Municipal de São Brás de Alportel é desenvolvido em parceria com a associação local Barro i Cal, com criação de Ana Beatriz Bernardo de Jesus.

I. Ricardo Anica
47 anos, Alportel
“Lembro-me que toda a vida o meupai teve gado, já vinha do meu avô. Quando eu saía da escola vinha dar com o meu pai logo, comecei a andar com ele tinha 4 anos, eu tenho andado sempre com o gado. Há muita gente que não gosta, mas eu gosto, sinto-me bem.
Tenho umas 150 ovelhas, e umas quantas cabras, tem sido mais ou menos sempre assim. Tenho umas ovelhas que são francesas, e tenho umas aqui do Algarve, são as que têm cornos, agora as cabras são espanholas.
Tenho terrenos que eu ‘tou à posse, que semeio comida para elas comerem de verão e tenho pessoas que me dizem pa’ ir p’ra lá, que elas comem a erva e eu vou para limpar as terras. O ano passado é que foi pior, aí a meio do Verão, tive de começar a comprar palha e ração pa’ lhes dar. Todas as semanas era perto duns 400€ que elas comiam.
Se não tiver cães, não dou conta delas, que elas começam a andar “calaciando.”
Em relação a cuidados diários com o gado “tenho de ver se aparece alguma doente, deixa de comer, e por exemplo, se começa alguma a coxear das unhas, tenho de catar a ver se tem ferida, tenho de tratar para elas não andarem doentes.”
Perguntei do incêndio de 2012 e se isso o afetou: “Fui, andou à roda, que ardeu tudo à roda, consegui salvá-las que eu as pus debaixo de telha para as guardar, que ardeu tudo à roda, que eu mais os meus irmãos, cuidaram no monte, naquilo tudo para não arder nada. As pastagens foi quase tudo. Não sei o que é férias, é todos os dias, que chova que vento tem que ser todos os dias.
Ohhh já tenho ajudado muita vez, quando elas não conseguem ter as crias, os picaninos”, ajudo. Quando elas têm os borregos tão 8 a 15 dias em casa e depois quando eles tão já capazes de vir é que depois começam a vir.
Ficam com as mães, já tem acontecido isso (rejeitar os filhos), ponho-as sozinhas pa ver se elas aceitam. Algumas aceitam, há outras que não querem saber deles, depois tenho de criá-los nas cabras, as cabras mesmo que elas rejeitem eu ‘tou sempre ao pé ali ao pé a “tacamentar.”
