Daniela Soares, 35 anos, natural de Durban, viveu parte da sua adolescência entre Moçambique e África do Sul, até aos 20 anos, altura em que veio de férias a Portugal e nunca mais voltou!
O amor trocou-lhe as voltas e apaixonou-se não só pela vila de S. Brás de Alportel, mas também por Hugo Soares, o seu grande amor e companheiro de vida.
Faz parte da família “O Parafuso” loja de renome sambrasense onde esteve durante 12 anos a trabalhar e a ser um dos rostos deste espaço.
Mãe de três meninas, a vida pregou-lhe uma partida, no ano passado, com o 4º fi lho a caminho, que infelizmente, acabou por perder. O luto, a dor e a introspeção que viveu nesse período fez colocar tudo em causa e ir à busca de mais felicidade. É aí que surge a necessidade de sair da zona de conforto e arriscar noutra área profissional.
A fotografia era uma paixão que estava guardada na gaveta, mas não esquecida e foi nessa altura que se deu o clique para investir primeiramente numa máquina fotográfica e depois em formações e cursos.
É neste âmbito que surge o projeto “ Luna Grey” com o seu estúdio inaugurado no passado dia 1 de novembro onde Daniela recebe os seus clientes e realiza diversas sessões tanto empresariais como familiares.

ENTREVISTA
Como é que recordas a tua vida antes da vinda para Portugal?
Uma vida boa, fui criada pelos meus pais, que me adotaram no dia do parto, portanto, eu estou com os meus pais (adotivos) desde que nasci. A minha mãe biológica não tinha condições para me criar e então deu-se logo o processo de adoção.
Recordo-me de uma juventude com muito convívio entre as famílias, churrascos com amigos, entre África do Sul e Moçambique. Quando os meus pais se separaram fiquei a viver com o meu pai em Moçambique e aí foi uma fase mais complicada, mas sempre positiva.
E nunca sentiste falta de conhecer a tua mãe biológica?
Conheci a minha mãe biológica apenas aos 21 anos quando vim de férias a Portugal. Mas não senti falta, porque a minha realidade era com a minha família, eu sempre soube que ela existia, mas como não a conhecia não me fazia falta. E desde pequenina que sabia que era adotada.
Ser adotada nunca me fez confusão, não tenho memórias negativas, fui muito bem-criada e educada.
Os meus pais terem me adotado a mim e ao meu irmão só demonstra o amor ao próximo que eles têm.
Aos 20 anos vens de férias a Portugal. E entre algumas voltas vens ter até S. Brás de Alportel. O que aconteceu para nunca mais saíres de cá?
Recebi convite de uma amiga que estava no Algarve para beber um café e viemos parar a S. Brás de Alportel! E foi nesse dia que conheci o Hugo (que é o meu marido). Era para voltar para África do Sul para iniciar o curso em hotelaria, mas já não voltei.
E como é que se inicia a tua história de amor com o Hugo?
Foi tudo muito rápido, eu vi o Hugo no dia em que vim a S. Brás, mas nesse dia não nos conhecemos, passados dois dias eu voltei e perguntei a um amigo se podia chamar aquele rapaz para sair connosco e o Hugo apareceu.
A partir daí começámos a conhecer-nos e foi sempre tudo a uma velocidade muito rápida. O meu pai ficou incrédulo quando eu disse que já não voltava. A minha família ficou preocupada com a minha decisão.
Não sei se foi amor à primeira vista, se foi destino, foi um risco também, mas correu bem. Ao fim de meio ano estava grávida da Maia. E passado pouco tempo, casámos!
A vida foi passando, integrei também a equipa do Parafuso, fomos pais novamente de mais duas meninas: a Zahra e a Savanah.
Desde os 22 anos até há um ano, eu fui acima de tudo mãe, funcionária, esposa e só depois a Daniela.
Fizeste parte da equipa do Parafuso durante 12 anos. O que é que aconteceu para mudares esta estabilidade que tinhas?
O que aconteceu foi 2 anos antes engravidei novamente, vinha a caminho o 4º bebé Soares, que acabei por perder às 12 semanas. A família próxima e amigos já sabiam desta gravidez. As meninas já sabiam que iam ter um mano ou mana. Foi muito difícil.
A perda deste bebé foi muito traumatizante. Hoje estou em paz, mas passei por uma grande depressão em que nunca tinha sofrido nada assim. Fiz terapia para tentar superar o luto de perder aquele filho porque não estava a conseguir. Foi muito duro mesmo.
Mas foi aí ao fazer terapia com uma excelente profissional, a Mia, que percebi que havia algo mais dentro de mim por resolver. E chegámos à conclusão que sacrifiquei tanto de mim enquanto Daniela mãe, Daniela do Parafuso, que vivia ansiosa à procura de mais. Já não estava feliz, mas tinha muito medo de dizer aos meus cunhados que me queria ir embora. Custou-me imenso porque não queria de todo que eles se sentissem abandonados.
E aí deu-se o clique: o que é que eu gostava de fazer profissionalmente? Fotografia! Posso dizer que ir para esta área também me ajudou a salvar e a recuperar.
E porquê a fotografia?
Desde muito nova que sempre gostei de fotografar, recordo-me de saídas com amigas, eu é que levava sempre a máquina fotográfica e era algo que gostava de investir mais. Falei disso com o Hugo e ele próprio começou à procura de cursos. E então comecei em novembro de 2023 a minha formação na área da fotografia.
O Paulo Côrte-Real foi o meu mentor da fotografia e também o meu despertar de mente. Investi em mais formações e workshops até que decidi criar o projeto “Luna Grey” e pôr em prática a construção do estúdio.
Tenho feito um pouco de tudo dentro da fotografia, comecei aqui na União Sambrasense, com o futebol, onde ganhei muitos contactos, foi a alavanca para me lançar. Atualmente, concentro-me em fotografia corporativa, sessões família, grávidas, recém-nascidos.
Ao dia 1 de novembro inauguraste o teu estúdio. O que é para ti a abertura deste espaço?
É o concretizar de um sonho de muito suor, lágrimas, amor! O estúdio é num anexo lá de casa, o projeto foi todo pensado por mim e pelo Hugo, ele foi o meu grande amparo e apoio.
E ao dia 1 abri portas ao público com um espaço que tentei ao máximo tornar confortável e acolhedor e onde tenho recebido os meus clientes.
Quero que as minhas sessões sejam algo memoráveis que marquem aquela família e que seja visto como uma experiência para a vida.
