Farmácia Dias Neves

POR VALES DA MEMÓRIA

… À DESCOBERTA DAS LOJAS, EMPRESAS E CASAS COM HISTÓRIA

Município de São Brás de Alportel

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Farmácia Dias Neves

Prosseguimos o nosso caminho, por Vales da Memória…

… Atualmente localizada no Largo de São Sebastião, a Farmácia Dias Neves começa a sua história no n. 64 da Rua Gago Coutinho, nos anos 30!… Na altura, era ainda a Farmácia de Lázaro Costa e estava localizada na rua mais movimentada de São Brás de Alportel.

Desse tempo recordamos, segundo relatos de Sebastião de Sousa Chaveca*, o farmacêutico “Sr. Lazarinho”, como era conhecido, que havia comprado uma telefonia, algo raro em 1938… De estatura baixa e de bata comprida, levava a telefonia para todo o lugar onde fosse. Até no parapeito da janela do primeiro andar onde residia nos finais de tarde. Aos poucos, nos finais de tarde começaram a juntar-se pessoas no largo para ouvir a telefonia. Um hábito que acabou quando colocou um cartaz na parede a dizer: “a 2 de agosto é o último dia que a telefonia vai para a janela porque vou de férias para a Manta Rota”.

Na altura, São Brás de Alportel tinha 5 farmácias. Quase todos os medicamentos eram preparados mediante prescrição e receita do médico e por isso havia trabalho para todos, como nos explica Isabel Dias Neves, farmacêutica responsável pela Farmácia Dias Neves, que ainda hoje guarda alguns frascos que o Sr. Lazarinho usava para fazer os preparados.

Estávamos em 1961 quando a jovem são-brasense, Maria Francisca Pontes Neves, conhecida como “Menina Chica”, conclui a licenciatura em Ciências Farmacêuticas no Porto.

Não era comum as mulheres frequentarem o ensino superior, mas Francisca contou com o apoio do irmão António Dias Neves que incentivou os irmãos a procurar profissões prósperas e estáveis.

Estava a jovem a trabalhar num laboratório no Porto, quando o irmão lhe liga a dizer que Lázaro Costa tinha falecido e que se ela quisesse tratava da compra do alvará da farmácia. “Vou já para casa”, foi a resposta que deu, recorda Maria Francisca.

Francisca assume então a direção técnica e a responsabilidade da farmácia que se passa a chamar “Dias Neves” embora fosse sempre mais conhecida por “Farmácia da Menina Chica”.

Naquela altura, já só restavam duas farmácias no concelho. O volume de trabalho foi aumentando e teve necessidade de arranjar ajudantes.

Os clientes confiavam nela. Não iam ao médico… iam à farmácia procurar remédio ou conselho.

A Menina Chica nunca casou. A sua vida acabou por ser dedicada à farmácia e ao serviço dos são-brasenses e à família. “A farmácia era uma prisão gigante e hoje continua a ser”, comenta Isabel recordando que a tia Francisca tinha a farmácia aberta das 9 horas da manhã até à meia-noite e, mesmo depois dessa hora, podiam surgir telefonemas com pedidos urgentes. Por isso, muitas vezes, coo ainda recorda, a família reunia-se à noite na farmácia.

Dos pedidos fora de horas, recorda uma noite em que lhe pediram para ajudar um macho que estava com dores. “A minha mãe ficava pior que estragada. Não dormia enquanto eu não voltava, mas eu dizia: Oh mãe, eu tenho que ir”, recorda.

A sobrinha Isabel, filha do irmão António, nascida num casal de médicos, cresceu no Montijo com os seus cinco irmãos. São Brás de Alportel era o destino de férias. Mas ganhou aqui bons amigos com quem brincava na rua no verão. Em 1990, licencia-se em ciências farmacêuticas ramos de análises clínicas e também no ramo de farmácia de oficina, mas sem pensar em trabalhar numa farmácia. Posteriormente, tira a especialidade em análises clínicas e em farmácia comunitária.

Não tendo arranjado trabalho de imediato, recebe um telefonema da tia que lhe diz: “Filha, vem ver se gostas disto”. Isabel decidiu experimentar e juntou-se à equipa da Menina Chica que na época tinha três ajudantes: Gracinda, Manuela e Cidália.

Conforme vim para cá, senti que era a terra ideal para ter melhor qualidade de vida”, afirma Isabel.

Cidália, que ainda hoje permanece na equipa da Farmácia Dias Neves, fala alemão, o que atraiu os primeiros estrangeiros que começavam a chegar à vila na época.

Isabel começou por ser adjunta da tia e, numa época em que as novas tecnologias começavam a entrar em todos os negócios, desafiou a tia a começarem a introduzir os computadores e a faturação impressa na farmácia. A Menina Chica aceitou o desafio e aprendeu trabalhar com os computadores na farmácia.

A forma como os clientes aceitavam e confiavam nos conselhos da equipa marcaram Isabel. “Viam as funcionárias como discípulas da Menina Chica”, recorda.

Já inteirada do negócio e sendo a única pessoa da família com formação para poder ficar com a farmácia, a passagem da farmácia para Isabel foi um passo natural quando a Menina Chica decidiu reformar-se em 1995.

Isabel conta que no momento da reforma, Maria Francisca fez um corte radical com a farmácia. “Penso que estava muito cansada da farmácia”, observa Isabel vincando que a tia e madrinha é o seu grande exemplo de vida.

A loja com 40m2 era cada vez mais pequena para as necessidades do negócio e quando surge a oportunidade de arrendar a casa n. º1 do Largo de São Sebastião, logo do outro lado da rua, Isabel não hesita. A mudança ocorre em 2000.

Atualmente, a farmácia tem uma equipa com seis pessoas e os serviços ali prestados são muito mais abrangentes. Da Fitoterapia à cosmética, da veterinária à homeopatia, da ortopedia à participação em estudos fármaco-epidemiológicos, da vacinação a recolha de medicamentos fora do prazo ou de radiografias até ao programa de recolha de seringas são muitos os serviços prestados à população.

Com a pandemia e os necessários confinamentos, a pedido dos utentes mais idosos, começaram a fazer também entregas ao domicílio. E a pensar no melhor interesse da comunidade, estabeleceram parceria com os hospitais de Coimbra, Curry Cabral e Santa Maria para receberem medicamentos hospitalares, sobretudo para utentes que foram sujeitos a transplantes, que anteriormente tinham de se deslocar aos hospitais.

Para conforto dos clientes, numa altura em que o seu número dentro da farmácia está limitado, Isabel colocou um toldo exterior para abrigar do sol e da chuva e aderiu a uma plataforma das Farmácias Portuguesas para venda online. Garante que a melhoria do atendimento dos clientes é uma preocupação constante e que acredita que além do preço e da proximidade física, o atendimento é o fator diferenciador que fideliza clientes.

Há um sentido de missão para com a comunidade, tal como a parceria com o município que possibilita agilizar a resposta de Banco Municipal de Medicamentos “Muita coisa não é para ganhar dinheiro. É a parte social, a responsabilidade e o achar-se que se tem algum papel na saúde das pessoas”, afirma Isabel.

  • Dados fornecidos pelo Dr. José Belchior no Grupo “São Brás de Alportel * Memórias”

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Textos: Sofia Silva / Marlene Guerreiro
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