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26 Junho, 2025 | Destaque, Entrevistas

Cuidar não é crime: O Compromisso com os Animais de Rua – Marisa Teixeira

Em entrevista ao Sambrasense, Marisa Teixeira, Presidente da Associação Coração 100 Dono, traça o retrato atual da situação dos animais de rua em São Brás de Alportel.

O compromisso com os animais de rua Marisa Teixeira

Apesar de o concelho continuar a ser um local sensível ao abandono, pela sua proximidade à serra, Marisa garante que o número de casos está controlado e que o trabalho em rede — entre voluntários, associação e município — tem sido fundamental. Explica o papel do Parque Canino na captura responsável de animais, lamenta os atos de desinformação como a colocação recente de uma placa alarmista, e enaltece o compromisso das cuidadoras que, há anos, alimentam e acompanham os animais com dedicação. Um testemunho direto de quem está no terreno, todos os dias, a lutar por aqueles que não têm voz.

Como está a situação do abandono de animais em S. Brás?

A situação dos animais em São Brás de Alportel está, na minha opinião, bastante controlada e até mais positiva do que na maioria dos municípios algarvios. Atualmente, temos apenas sete animais a viver nas ruas todos concentrados na mesma zona, o que facilita o seu acompanhamento e alimentação. Fora da área junto ao Intermarché, é raro ver animais abandonados pelas ruas da vila.

Sempre que surge uma situação, conseguimos geralmente identificar e contactar rapidamente os tutores. Quando isso não é possível, procedemos à recolha dos animais de forma célere e eficaz. Creio que essa resposta pronta por parte dos serviços é a principal razão pela qual São Brás apresenta tão poucos casos de abandono visível.

Temos também várias colónias de gatos no concelho, todas devidamente sinalizadas, acompanhadas por cuidadoras responsáveis e, em grande parte, com os animais já esterilizados. Esse trabalho silencioso, mas contínuo, tem feito uma diferença enorme no bem-estar animal no nosso território.

A zona do Intermarché continua a ser considerada um ponto crítico? Porquê?

Infelizmente, essa zona tornou-se um ponto onde algumas pessoas optam por abandonar os seus animais. O grande desafio que enfrentamos aí é a dificuldade em capturar esses animais, pois muitos não se deixam apanhar com facilidade. Isso leva, inevitavelmente, ao aparecimento de ninhadas indesejadas. Quando nos deslocamos para recolher dois ou três, muitas vezes já são dez ou doze… A reprodução rápida agrava o problema e complica a gestão, mas continuamos a intervir com todos os meios ao nosso alcance para controlar estas situações.

Que trabalho está a ser feito no Parque Canino para os animais de rua?

Como referi anteriormente, neste momento temos sete cães naquela zona específica. Quando começaram a ser avistados ou ali deixados, já tinham cerca de um ano de idade — o que, como sabemos, torna o processo de captura bastante mais complicado, pois não são animais socializados.

Perante esta situação, e em articulação com a Câmara Municipal, optámos por uma estratégia que facilitasse essa tarefa: utilizamos o espaço do Parque Canino que é vedado para os animais serem alimentados com regularidade. Esta medida teve resultados concretos — só naquela área, já conseguimos recolher 11 animais que, de outra forma, estariam hoje a vaguear pelas ruas. É um trabalho que passa muitas vezes despercebido, mas que tem um impacto real na redução do número de cães errantes no concelho.

Contudo, nem sempre é fácil. Há quem, por falta de informação ou compreensão, deite fora as taças de comida ou abra os portões, impedindo que os animais permaneçam no local. Situações como estas dificultam o nosso trabalho, que, no fundo, vai ao encontro da vontade de todos: retirar os animais da rua de forma segura e responsável.

Ao dia 11 de junho foi colocada uma Placa a dizer ” Não alimente os animais pois vão ser capturados e abatidos.” Que tentativa de ataque pode ter sido este?

Confesso que aquela placa me deixou triste. Só posso acreditar que foi colocada por alguém que desconhece por completo o trabalho sério e constante que tem sido desenvolvido no concelho em prol do bem-estar animal.

Infelizmente, São Brás de Alportel, pela sua localização geográfica — tão próxima da serra — torna-se um local apelativo para o abandono de animais. Ainda há quem, de forma irresponsável, continue a fazê-lo. Apesar disso, acredito sinceramente que temos conseguido dar uma boa resposta. O esforço que tem sido feito por parte de várias entidades e voluntários é notório, e os resultados estão à vista.

Aliás, o nosso município deixou de recorrer ao abate de animais muito antes de a lei o proibir, o que demonstra um compromisso ético com esta causa que precede até as exigências legais. Por isso, não vou dar demasiada importância a esse tipo de manifestações — provavelmente vindas de alguém mal informado. Prefiro continuar a focar-me no que realmente importa: proteger os animais e trabalhar para soluções sustentáveis.

Que impacto teve esta ação na população local e nas pessoas que costumam alimentar os animais de rua?

As pessoas que alimentam os animais de rua continuaram — e continuarão — a fazê-lo. São cuidadoras dedicadas, que há muitos anos acompanham estas situações com responsabilidade e carinho. Sabem bem o que se passa no terreno e reconhecem que o que estava escrito naquela placa não corresponde minimamente à verdade. O seu compromisso com o bem-estar dos animais não se abala por desinformação ou críticas infundadas. São um pilar silencioso, mas fundamental, de tudo o que tem sido feito em São Brás nesta área.


Isa Vicente