
Biografia
Nascido em Cascais, a 1 de agosto de 1949, Marques Valentim fez a sua comissão de serviço militar obrigatória em Moçambique, como furriel miliciano fotocine, após ter tirado em Lisboa o curso de Fotografia e Cinema, nos Serviços Cartográficos do Exército. Neste território africano, esteve durante 26 meses (1972/74) percorrendo o de Norte a Sul em serviço de reportagem fotográfica.
De regresso Portugal e, logo após o 25 de Abril de 1974, surge no fotojornalismo iniciando o seu trabalho na Agência Europeia de Imprensa (AEI – Notícias) onde cobre os acontecimentos importantes que se deram no País nosso entre setembro de 1974 e agosto de 1975. A 1 de Setembro desse mesmo ano, iniciou oficialmente, a sua carreira de fotojornalista no diário “A Luta”, no qual encontramos até à sua extinção, em janeiro de 1979. Fez parte da equipa que lançou o “Correio da Manhã” – de 15 de março de 79 a 15 de setembro de 1979. Em outubro de 1979 entrou para o “Portugal Hoje”, em 1982, fez parte do grupo de jornalistas fundadores do Semanário Desportivo “Off-Side”, tendo, em 1983, recebido em serviço deste jornal o prêmio Gandula (Revelação) de Wilson Brasil. Deixa, entretanto, o “Off-Side”, para entrar, em outubro de 1983, na delegação de Lisboa do jornal “Comércio do Porto” onde se encontravam até fevereiro de 1986. Em março de 86 regressa aos quadros do “Correio da Manhã” onde desempenhou os cargos de repórter-fotográfico, subcoordenador, tendo sido nomeado em janeiro de 2002 para o cargo de Editor Fotográfico, função que desempenhou até 31 de outubro de 2002, tendo sido como fotojornalista do “Correio da Manhã” que Marques Valentim realizou vários trabalhos de tauromaquia, tema que o entusiasmou e o levou a realizar diversas discussões.
Em 2001, recebeu uma menção honrosa da revista “Visão”, relacionada com o prestigiado concurso de fotojornalismo do mesmo nome, cuja foto premiada era sobre este tema. Em 2001 é igualmente autor do cartaz da Feira Taurina de San Juan, em Badajoz. Colabora, atualmente, como freelancer, no Jornal “Bombeiros de Portugal “, e nas revistas “Segurança e Defesa “e “Saúde e Sociedade “, entre outras. Em 1998 participa no livro de Andrade Guerra, “João Moura – O Mito e as Efemérides”, comemorativo dos 20 anos de carreira deste cavaleiro. Em dezembro de 2003, foi coautor com Andrade Guerra e Isabel Trindade, do livro “Combatentes do Ultramar” tendo colaborado também, em 2005, no livro “A Dor da Nação” de Andrade Guerra.
A 1 de dezembro de 2009 foi lançado o livro “Cavaleiros – Heróis com Arte”, igualmente de Andrade Guerra e com imagens de sua autoria. Entre as várias exposições de fotografia que já realizaram, destacamos a primeira – realizada em Lisboa no ano de 1994 – intitulada “Tauromaquia”, “E Depois do Adeus”, uma exposição documental de fotojornalismo, onde sobressaiam personalidades que marcaram a História recente, do nosso País, após o 25 de Abril de 1974.
A 10 de março de 2012, Marques Valentim foi empossado como Embaixador para a Paz, pela Federação Internacional para a Paz e é membro da ALDCI – (Ong.).
Marques Valentim já realizou cerca de meia centena de Exposições, não só em Portugal, como no estrangeiro.
ENTREVISTA
Como surge a vontade de seguir o Curso de Fotografia e Cinema?
Durante a minha adolescência, e em virtude do meu pai possuir uma máquina fotográfica Kodak, tipo “caixote”, muito básica, habituei-me a tirar fotografias, aos meus amigos. Sempre que havia viagens de estudo, ou jogos de futebol, lá estava eu, com o ” caixote ” na mão a tirar retratos, ao pessoal. Quando fui mobilizado para o Exército, em outubro de 1970, como não queria ir para a guerra do Ultramar, pois fui sempre contra qualquer guerra, tentei aprender (ler) tudo sobre fotografia. Como sabia que havia no Exército português a especialidade de Foto Cine, quando fiz os psicotestes, durante a recruta, consegui com os meus conhecimentos fotográficos, em vez de ir para atirador ou minas e armadilhas, especialidades que ninguém queria ter, consegui ir para Foto Cine. Assim, e sempre na esperança de nunca ser mobilizado para as ex-colónias, que estavam em guerra, procurei tirar a melhor classificação no curso de Fotografia e Cinema, nos serviços Cartográficos do Exército, ficando em terceiro lugar, com 18 valores, entre os 20 militares a concurso.
Porém, naquele tempo, julho de 1971, todos os militares foram mobilizados e acabei por ir para Moçambique, (24 de fevereiro de 1972), Colónia onde estive 26 meses, como fotógrafo do exército.
Em plena guerra colonial teve a árdua tarefa de fazer reportagem fotográfica durante 26 meses. Como é que descreve estes meses?
Quando cheguei à cidade de Nampula, em Moçambique, onde se encontrava o Comando Chefe Militar da Província Ultramarina, como era o Foto Cine, mais bem classificado, dos que tinham sido mobilizados, fui requisitado, pelo General Kaúlza de Arriaga, para fazer parte do staff do general, passando assim a acompanhá-lo em todas as deslocações em Moçambique. Quando o General, não viajava, eram-me atribuídas missões específicas, acabando por fazer reportagens fotográficas para o exército português. Viajei, de Norte a Sul, percorrendo Moçambique, de ponta a ponta. Estive em zonas de guerra e também em zonas pacíficas.
Houve alturas em que senti o que era a guerra, e também passei sede porque, em zonas de mato, tinha medo de beber água, para não apanhar paludismo. Fiquei com Moçambique no coração, porque é um dos países mais bonitos da África Austral. Naquele tempo, apesar de haver guerra, as pessoas que viviam nas cidades, viviam bem.
Ao longo dos anos tem registado vários acontecimentos históricos do nosso país. Nomeadamente, o 25 de abril. O que é que recorda com mais emoção desse dia de revolução?
Se faço fotografias, desde 1972, até aos dias de hoje, (2024), por mais incrível que pareça, acabei por não fazer nenhum retrato, nesse dia, histórico e único. A euforia era tão grande e o facto de não ter uma máquina fotográfica boa, levou a que não tivesse tirado fotografias, no dia 25 de Abril de 1974. Aliás, no dia 25 de Abril, comecei por ir fazer compras de alimentação porque, tal como amigos meus que tinham acabado de chegar da guerra Colonial, pensámos que o golpe militar que estava a acontecer em Lisboa, naquele momento, poderia originar uma guerra civil. Portanto, havia que abastecer a dispensa dos nossos pais.
Depois disso foi ir para a rua e festejar a queda do regime e viver a Liberdade…
Uma das imagens mais notórias de Salgueiro Maia é sua. Como é que olha para esse momento passados 50 anos?
Esta é, sem dúvida, uma das mais bonitas e icónicas fotografias do capitão de Abril Salgueiro Maia. Foi feita em Dezembro de 1975, no quartel de Cavalaria de Santarém, na presença do General Ramalho Eanes, que aparece na foto apenas com o queixo e o nariz.. Foi num dia da Unidade. Quando olho para trás, sinto pena de não ter feito mais retratos do Capitão de Abril. Esta imagem é única, mas vale por mil imagens..
As suas imagens são algumas das escolhidas para homenagear Salgueiro Maia e os 50 anos de liberdade. Qual é a sensação de fazer parte destas celebrações?
É uma honra muito grande e simultaneamente um enorme orgulho. Embora não haja muitas fotos de Salgueiro Maia, e o facto de não ter havido muitos repórteres fotográficos a fotografá-lo, foi uma grande distinção a Comissão das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, ter escolhido, uma foto do Capitão Maia tirada por mim, em 1975. Para mim é a melhor imagem de Salgueiro Maia.
Na sua opinião qual é a importância da fotografia como instrumento de registo da história?
A fotografia tem, para mim, um papel crucial na documentação do passado. Permite-nos reviver e entender momentos históricos . Mas, desde que comecei a fotografar (1972 ) não imaginava que estava a construir a história de Portugal , dos últimos 50 anos. Através da fotografia, acabamos de testemunhar a evolução da sociedade, as mudanças culturais e as conquistas humanas. É uma forma de transmitir histórias e guardar memórias. Aliás, é o que estou a fazer atualmente, com as exposições que estou a realizar pelo País fora. Graças ao meu enorme espólio fotográfico de mais de 150 mil negativos, que preservo desde 1972, estou a apresentar a, actualmente, as minhas “MEMÓRIAS DE ABRIL”, onde se expõem imagens inéditas, de reportagens realizadas há quase 50 anos. É o caso de Portimão, onde a Casa Manuel Teixeira Gomes, irá ter uma mostra fotográfica, até 31 de maio de 2024.
EXPOSIÇÕES ACTUAIS
CELEBRAR ABRIL COM IMAGENS DE MARQUES VALENTIM
Marques Valentim, inaugurou em Abril de 2024, três exposições individuais de fotografia, todas com o intuito de celebrar os 50 anos do 25 de Abril de 1974. O seu vasto espólio, composto por imagens que registram alguns dos momentos mais marcantes do nosso País, permitem-lhe apresentar em três cidades diferentes, exposições que, embora sobre a mesma temática, acabam por ser todas diferentes. Dia 4 de Abril, inaugurou na Galeria Pintor Samora Barros, em Albufeira, com o apoio da Câmara Municipal, a exposição “E DEPOIS DO ADEUS – FOTOGRAFIAS COM HISTÓRIA “evento que regressa, dois anos depois à mesma Galeria exactamente após ter sido exibida em 2023, no Museu de Portimão, nos Paços do Concelho de Castelo de Vide e na Biblioteca Municipal de Santarém. No dia seguinte, dia 5 de Abril, o fotojornalista inaugurou na Galeria da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, uma exposição semelhante, à de Albufeira, embora com outras nuances e com imagens inéditas ligadas à vida do Drº Mário Soares, o ” Insubmisso”, que celebra, este ano, 100 anos do seu nascimento. Tanto a exposição de Albufeira como a de Lisboa, ficarão patentes até ao fim do mês de Abril. Finalmente a 18 de Abril de 2024, na Casa Manuel Teixeira Gomes o fotojornalista inaugurou, “Memórias de Abril “, exposição em que a maior parte das fotografias, são obras inéditas. Paralelamente a esta exposição e na rua Júdice Biker junto à Casa Manuel Teixeira Gomes , estarão também expostas na parede da Galeria, imagens ampliadas do autor, que ficam iluminadas durante a noite. Esta exposição que tem o apoio da Câmara Municipal de Portimão está também, integrada nas celebrações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974. . ” Memórias de Abril ” ficará patente até 31 de Maio de 2024.



Isa Vicente