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17 Novembro, 2025 | Destaque, Entrevistas

Renascer Depois do AVC: a Jornada de superação de Regina Peyroteo

“Renascemos muitas vezes na vida. O meu AVC foi um desses renascimentos”

Regina
Regina

Há quem diga que cada vida guarda várias vidas dentro de si. A trajetória de Regina Peyroteo — residente em São Brás de Alportel há quase três décadas — parece confirmar exatamente isso. Terapeuta energética, Mestre Reiki, coach pelo método Heal Your Life e taróloga, Regina iniciou o seu caminho profissional numa área bem diferente: o setor financeiro. Contudo, a dor profunda causada pela perda da mãe e, mais tarde, o AVC que sofreu há dois anos, levaram-na a redefinir prioridades e a reconstruir-se.

Regina traz também consigo uma herança familiar de grande significado para o país: é sobrinha-neta de Fernando Peyroteo, o lendário goleador leonino, considerado um dos maiores avançados da história do futebol português. “É uma família de força, de garra e de paixão”, diz. “Sempre senti muito orgulho em carregar o nome Peyroteo.” Essa ligação, revela, também a inspirou ao longo da vida: “A família ensinou-me a nunca desistir, a levantar a cabeça mesmo quando o corpo fraqueja.”

Hoje, aos 63 anos, e depois de um longo processo de reabilitação física e emocional, continua a transformar vidas através das terapias holísticas — enquanto descobre, passo a passo, a sua própria forma de renascer.

O AVC obrigou-a a parar, a olhar para si e a reconhecer que, apesar de ensinar outros a cuidarem-se, ela própria há muito que se colocava em segundo plano. Hoje diz viver uma reconstrução — emocional, física e identitária. Aprendeu a estar sozinha pela primeira vez na vida e a viver para si, sem culpa.

Regina deixa um conselho claro: na doença, seja um AVC ou outra condição, a presença da família é vital, mas também é importante estar aberto a novas formas de ajuda. Acredita que o corpo tem uma capacidade inimaginável de regeneração e que muito do que consideramos “incurável” começa, na verdade, naquilo em que acreditamos.

ENTREVISTA

Regina, podes começar por nos dizer de onde és natural e como chegaste a São Brás de Alportel?

Eu sou natural de Angola e vim para Portugal em 1975. Inicialmente fui viver para Setúbal, a terra do meu pai, onde estudei. Durante as férias da escola, vinha trabalhar para o Algarve, porque já tinha familiares aqui, primos e assim. Gostei e acabei por vir viver definitivamente para cá.

O teu apelido, Peyroteo, tem alguma ligação com o famoso futebol português?

Sim, o meu apelido vem da família da minha mãe, da parte da minha avó materna, e a família é de origem basca. Fernando Peyroteo, o jogador do Benfica, era tio-avô da minha mãe, irmão da minha avó. Embora eu não tenha tido contato direto com ele, porque ele morreu muito cedo, há um certo orgulho em carregar esse nome. Ele marcou a história do futebol português.

E qual é a tua relação com o futebol hoje?

Eu sou benfiquista! (risos) O que é curioso, porque muitas pessoas associam o nome Peyroteo ao Sporting, mas não é o meu caso. Para mim, o orgulho está mais no legado histórico da família do que no clube.

Mas os meus filhos são sportinguistas ferrenhos!

Falemos agora do teu percurso profissional. Como começou a tua carreira?

Sou licenciada em Economia e trabalhei como responsável financeira em várias empresas. Sempre gostei de números e da lógica da área financeira. Mas a minha vida mudou muito após a morte da minha mãe, há 21 anos. Entrei numa depressão profunda e a medicina tradicional não estava a conseguir ajudar-me completamente.

E como é que descobriste o Reiki e as terapias holísticas?

Foi através do meu irmão. Ele sugeriu que eu procurasse algo alternativo. Fiz a minha iniciação em Reiki há 21 anos e três dias depois já tinha deixado toda a medicação. Foi uma experiência transformadora. A partir daí, comecei a estudar, ler, aplicar terapias a mim mesma e depois aos outros. Descobri o coaching pelo método Heal Your Life, o Reiki e até o tarot. Tudo contribui para ajudar as pessoas a encontrarem equilíbrio.

Isso significa que passaste de uma área lógica e concreta para algo que parecia mais desconhecido…

Sim, mas hoje já vejo lógica. A física quântica explica muitos fenómenos que antes eram considerados místicos. A diferença é que algumas pessoas ainda têm preconceito ou medo. Mas quando se experimenta e se percebe que funciona, tudo muda.

Fala-nos sobre o AVC que tiveste há dois anos. O que aconteceu?

Foi inesperado. Tinha acabado de vir da aula de Pilates, jantei e comecei a sentir-me mal. Não tinha os sinais clássicos como dor no peito ou desmaio. Aconteceu na área da fala: não conseguia dizer palavras corretamente. E sentia-me mal disposta. Percebi que algo estava errado quando tentei falar e não consegui.

Como foram os dias seguintes?

Fiquei internada no Hospital de Faro. Sem grande diagnóstico porque não se sabia o que tinha provocado o AVC. Até aos dias de hoje é um caso por fechar porque aparentemente não havia razão para isto ter acontecido.

Quando percebi que tinha que ficar internada, comecei a pensar no que poderia fazer para recuperar, visto que, a fala era o mais preocupante, arranjei estratégias, juntando sílabas, ouvindo os meus áudios de meditação para reconhecer a minha voz e palavras. Na minha cabeça eu sabia, não conseguia era expressar.

Utilizei as minhas próprias ferramentas de trabalho, pratiquei Reiki, acunpuntura, reflexologia, tudo isto, junto com o trabalho excelente dos médicos, proporcionou uma recuperação mais rápida se bem que a minha memória nunca mais ficou igual.

O mais importante foi a minha disponibilidade para me curar — não é apenas força de vontade, é estar verdadeiramente disponível para o processo.

Houve momentos de desânimo ou medo durante este processo?

Sim, muitos. Durante a recuperação, entrei numa menopausa abrupta e tive desequilíbrios hormonais. A nível mental também foi complicado. Entrei num quadro depressivo e frustrante por me ver tão dependente dos outros.

Mas os conhecimentos que tenho de terapias energéticas ajudaram-me a superar esses momentos. A rede de apoio também foi fundamental. Aprendi que é normal cair e que pedir ajuda não é fraqueza.

E fiquei com algumas sequelas que ainda estou a tratar! Ainda assim, considero que, estou bem para o que aconteceu! Há pessoas que até duvidavam se eu tinha mesmo tido um AVC dado a minha recuperação rápida mas é verdade.. e eu sempre fiz exercício físico e uma alimentação equilibrada. O único pecado era fumar. Mas a doença não escolhe. E temos é que saber dar a volta por cima.

Olhando para trás, sentes que havia intuição ou perspicácia em ti desde pequena?

Sempre fui muito perspicaz, mas hoje vejo que era intuição. Sempre percebia o que estava além do óbvio, mas não tinha consciência do que isso significava.

E agora, após o AVC, como vês a tua vida?

O AVC foi um verdadeiro renascimento. Aprendi a cuidar de mim, emocionalmente e fisicamente. Antes, vivia muito para os outros e esquecia-me de mim. Hoje, aprendi a viver sozinha, a gerir a solidão, e isso trouxe liberdade e autoconhecimento. Também me tornei avó recentemente, o que é uma experiência leve e amorosa, muito diferente da maternidade.

Que conselho darias a pessoas que enfrentam doenças graves?

É essencial procurar ajuda, não só médica, mas também terapias complementares que façam sentido para cada um. É preciso acreditar no corpo, na mente, e estar disponível para a cura.

O corpo tem uma capacidade infinita de recuperação, mas isso exige comprometimento, amor próprio e apoio da família e amigos.


Isa Vicente