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6 Junho, 2025 | Entrevistas

Associativismo – À conversa com Marina Caiado

FCCV assinala 33 anos de história com Marina Caiado a liderar o presente e a sonhar o futuro

Marina Caiado - Associativismo - Futebol Clube Cabeça do Velho

O Jornal O Sambrasense esteve este mês à conversa com Marina Caiado, atual presidente do Futebol Clube Cabeça do Velho, que assinalou no passado dia 1 de maio os 33 anos de história e associativismo desta coletividade serrana.

A tradicional Festa de Verão da Cabeça do Velho teve início em 1990, por iniciativa do Sr. Vivaldo Sousa, um emigrante em França com raízes familiares naquela localidade. Originalmente conhecida como a Festa dos Emigrantes, o evento incluía um torneio de petanca, um jogo de futebol, baile e o tradicional Leilão de Tabuleiros, que ainda hoje se mantém como uma das principais atrações da festa. Atividades como a corrida de sacos e o jogo do cabo de guerra também faziam parte da programação inicial.

Todas as direções do Futebol Clube da Cabeça do Velho (FCCV) ao longo dos anos procuraram manter viva esta tradição, que é atualmente considerada uma das maiores festas de verão do concelho de São Brás de Alportel. O evento tem a particularidade de reunir filhos, netos e familiares da terra, muitos deles emigrantes ou residentes noutras regiões do país, que aproveitam estes dias para regressar à sua comunidade de origem.

Fundado a 1 de maio de 1992, o FCCV celebra todos os anos o seu aniversário com a oferta de bolo, o tradicional canto dos parabéns e um convite aberto à população para participar num piquenique comunitário, com mesas e cadeiras disponibilizadas para todos. A animação musical é garantida com o habitual baile tal como aconteceu também este ano!

Ao longo dos anos, o clube também se destacou por iniciativas de cariz solidário. Após o trágico incêndio de 2012, um dos momentos mais marcantes na serra, foi organizado um Dia Solidário, com uma caminhada cujas receitas permitiram oferecer uma cadeira de rodas à população serrana. Em 2015, parte das receitas da festa foi canalizada para esta causa. Já em 2017, foi entregue um cheque de 500 euros a uma família de Pedrógão Grande, também vítima de incêndios.

Em 2019, o clube organizou um jantar comemorativo do Dia da Mulher, reforçando o seu papel ativo na promoção de eventos sociais e culturais. A coletividade tem ainda participado em diversas iniciativas relacionadas com as comemorações do 25 de Abril, bem como no Carnaval de São Brás, onde chegou mesmo a conquistar o 1.º lugar.

Durante vários anos, o FCCV realizou com sucesso o Encontro de Motorizadas Antigas, um evento que está a ser preparado para regressar em 2026, mantendo viva a paixão pelos veículos clássicos e o espírito comunitário que caracteriza esta associação.

ENTREVISTA

– O Futebol Clube Cabeça do Velho fez sempre parte da tua vida. Que memórias tens do clube?

Sim, desde pequena que me lembro de ir com os meus pais e os meus avós à festa de Verão, lembro-me também dos jogos de futebol que faziam. Era sempre um dia muito especial — o campo enchia-se de gente, havia muita animação, música, comida boa e aquele espírito de comunidade que nos fazia sentir em casa. Participava nas corridas de sacos, ajudava a enfeitar as mesas e ficava encantada com o leilão dos tabuleiros. Essas memórias marcaram-me e, de certa forma, contribuíram para o carinho que tenho hoje pelo clube e pela festa.

Que balanço fazes deste primeiro ano à frente do Futebol Clube Cabeça do Velho?

O balanço é francamente positivo, apesar de algumas dificuldades e contratempos que considero naturais ao longo de qualquer percurso associativo. Quando aceitei o desafio de assumir a presidência do clube, estava plenamente consciente de que não seria uma tarefa fácil. No entanto, contamos com uma equipa dedicada, coesa e motivada, e é graças ao esforço conjunto de todos que conseguimos ultrapassar os obstáculos que vão surgindo. Partilhamos o mesmo objetivo: manter o clube vivo, dinâmico e com alma. E, acima de tudo, procuramos incentivar os mais jovens a envolverem-se, a continuarem o legado deixado por pais e avós, mantendo viva esta ligação tão especial à nossa terra e às nossas tradições.

Quais foram os maiores desafios enfrentados neste primeiro ano e como foram superados?

Um dos maiores desafios tem sido encontrar formas de atrair um maior número de pessoas à serra e, simultaneamente, incentivar os próprios residentes a participarem de forma mais ativa nas iniciativas promovidas. A população é maioritariamente idosa, muito ligada às tradições e aos costumes, o que exige da nossa parte uma sensibilidade especial na organização de eventos. O respeito pelo luto é um valor profundamente enraizado na comunidade, e nos últimos anos atravessámos momentos difíceis, com perdas que deixaram marcas e afetaram significativamente o ânimo coletivo — muitos não sentem ainda motivação para sair de casa e integrar as atividades. Por outro lado, também enfrentamos a dificuldade de competir com a programação cultural mais centralizada na vila, que, por estar mais próxima e acessível, acaba por captar uma grande parte da atenção e da presença do público. Levar vida e dinamismo à serra exige persistência, criatividade e, acima de tudo, um enorme respeito por quem lá vive.

– Para quem não conhece a Cabeça do Velho como é que descreves em palavras a beleza da nossa serra?

A Cabeça do Velho é, para mim, o coração pulsante da nossa serra. É onde o tempo parece abrandar e onde cada recanto nos oferece paz e serenidade. É acordar ao som dos pássaros, respirar o ar puro das manhãs e deixar que a natureza fale mais alto. É um lugar onde as raízes ganham força, onde cada pedra e cada trilho contam histórias de quem por lá passou. Representa tranquilidade, mas também pertença — um sentimento profundo de ligação à terra, às memórias e às pessoas. Para mim, a Cabeça do Velho não é apenas um lugar: é e sempre será casa, refúgio e identidade. É onde me reencontro e onde sempre quero voltar.

-Quais são as tradições que têm mantido através do FCCV?

As tradições são a alma da nossa comunidade, e é com orgulho que continuamos a manter vivas algumas das mais emblemáticas. Uma delas é o tradicional jogo de futebol da Sexta-Feira Santa, que começou por ser um animado confronto entre solteiros e casados. Com o passar dos anos, evoluiu para um encontro amigável com equipas convidadas, promovendo não só o desporto, mas também os laços de amizade e cooperação entre associações vizinhas.

Mantemos igualmente a tão aguardada Festa de Verão, que se realiza religiosamente no primeiro fim de semana de agosto — um momento de encontro entre gerações, onde a alegria e o convívio tomam conta da serra.

A estas iniciativas juntam-se ainda o Chá Dançante da Segunda-feira de Páscoa, uma tradição que realizamos com o apoio da Junta de Freguesia, e as celebrações dos Santos Populares, dinamizadas em parceria com a Câmara Municipal.

São eventos que, além de preservar a nossa identidade, reforçam o espírito comunitário e mantêm acesa a chama das nossas raízes.


Isa Vicente