Aos 47 anos, Célia Guerreiro continua a viver no coração dos Vilarinhos, o sítio onde nasceu e cresceu, rodeada de memórias e afetos. Recorda com ternura a infância numa aldeia cheia de vida, onde o comércio florescia e a oficina de carpintaria do seu saudoso pai, Joaquim Neves Miguel, era ponto de referência.

Conhecida carinhosamente como Celinha entre familiares e vizinhos, descobriu ainda em criança a sua paixão pelos bolos. Foi com a mãe, Madalena, que aprendeu as primeiras receitas, mas cedo começou a querer inovar, criando doces com um toque muito próprio.

Após concluir os estudos, trabalhou numa loja de decoração, experiência que mais tarde passou a aplicar na forma como embeleza os seus bolos. Chegou também a ser secretária na oficina do pai, mas o chamamento da doçaria falou mais alto. Decidida a transformar a paixão em carreira, investiu em formação especializada, viajando várias vezes até Lisboa para frequentar cursos. Assim começou a ganhar forma o projeto “Os Bolos da Célia”.

“Comecei a pensar onde poderia abrir um espaço para ter os meus bolinhos e lembrei-me deste escritório que foi do meu pai. Ele foi o meu maior incentivador. Poucos meses depois de me encorajar, acabou por falecer…”, partilha Célia, emocionada.

Em outubro de 2020, abriu as portas do seu doce projeto, cumprindo rigorosamente todos os requisitos legais. Desde então, conta com o apoio incansável da mãe, que é o seu “braço direito”, não só ajudando na confeção, como também mantendo viva a tradição das famosas pinhas da Madalena dos Vilarinhos — uma receita que já atravessa três gerações, desde os tempos da avó, D. Albertina.

Os pedidos multiplicam-se: bolos de aniversário, cheios de cor e criatividade, são os mais frequentes, encantando sobretudo os mais pequenos. Mas também há espaço para casamentos, batizados e sobremesas especiais, que levam a assinatura de Célia. Entre todas as criações, brilham com destaque o irresistível Red Velvet e o clássico bolo de cenoura e noz, verdadeiras estrelas da casa.

Sem recorrer a grandes campanhas de publicidade, o negócio tem crescido de forma sólida, graças ao mais eficaz dos marketings: o boca a boca.

“Este é o sonho da minha vida. Sinto-me realizada! Desde os 12 anos que me jogava aos tachos para fazer bolinhos. Todas as semanas recebia a revista Tele Culinária e guardava religiosamente. Tenho centenas de edições! Nunca me esqueço do entusiasmo do meu pai quando abri o negócio”, recorda Célia.

Hoje, entre memórias de família, dedicação e criatividade, “Os Bolos da Célia” é muito mais do que um negócio: é a concretização de um sonho doce que adoça a vida de toda uma comunidade.

Isa Vicente