“(…)E temos uma grande cumplicidade. Que venham mais 22 anos assim. “
Ismael Guerreiro, 39 anos, Sofia Carneiro de 37, são um casal conhecido da comunidade sambrasense com uma porta aberta há mais de 20 anos em São Brás com o aclamado café “ Joconde” que começou com Nestor Carneiro.
Pais de um menino de 9 anos, Nestor, e também de uma menina de 5, Eveline, este casal é um exemplo de amor, amizade e cumplicidade, estando juntos há cerca de 22 anos, mais de metade da sua vida.
ENTREVISTA
Quando é que se conhecem?
Sofia: Nós conhecemo-nos aqui no café. Ele era muito simpático. Na altura o Ismael trabalhava no café do Foca e depois do trabalho vinha aqui e mandava uns piropos muito engraçados.
Os teus pais já tinham aqui o café?
Sofia: Sim, os meus pais abriram o café em 1998. Eu estudava e trabalhava no café.
Qual foi a primeira impressão que tiveste do Ismael?
Sofia: Logo de início não lhe achava piada nenhuma. Nós íamos para o Black Jack e o Ismael também ia sempre e tentava ser um galã. Mas isso ao início não me convenceu!
Ismael: Quando eu soube disso, caiu-me muito mal, mas não desisti até a conquistar e olha foi até aos dias hoje.
Quando é que surge o pedido de namoro?
Sofia: Começamos a namoriscar, íamos para as piscinas, mas onde demos o primeiro beijo em 2000. Depois tínhamos cúmplices que era a minha cunhada e por parte dele era o Parreira.
Na altura quase ninguém tinha telemóveis, então para falar com o Ismael tinha de telefonar para o Parreira para combinarem. Depois outra cúmplice era a “Soninha” que tinha a loja da enérgica.
A minha mãe tinha ido para a Madeira quando começámos meio a namorar e eu ia para a loja e era lá que estávamos juntos.
A 14 de agosto de 2000 o Ismael pediu me em namoro na Kadoc, com a minha cunhada Rita e o Carrusca como testemunhas.
Casaram em 2014 para surpresa de toda a família. Como foi esse dia?
Sofia: Sim, foi uma verdadeira surpresa. Íamos batizar o Nestor somente, mas algumas semanas antes, veio em conversa com a contabilista que eu e o Ismael não tínhamos o IRS em conjunto e tínhamos de casar ou viver em união facto. E foi aí que pensámos em casar. Fizemos tudo às escondidas, só quem soube foi a minha irmã e o meu irmão que eram os meus padrinhos e da parte do Ismael só soube a sua madrinha.
Já na igreja algumas pessoas desconfiaram por eu estar com um vestido branco, mas só no Zé Dias é que chegou o solicitador e toda a gente percebeu que íamos casar também. Foi muito giro.
Voltando até 1998 e porque o vosso café é emblemático em São Brás. Como surge a Joconde?
Sofia: Os meus pais tinham uma loja de lingerie, entretanto, o meu avô faleceu e o meu pai recebeu a herança e queria investir em algo que tivesse significado. Como sempre gostou de atender público, lembrou-se em construir um café.
Quando tinha 16 anos comecei a vir trabalhar com o meu pai. Mais tarde o Ismael começou a fazer a última hora do fecho, só para estar comigo, portanto, o Ismael é funcionário do café há tanto tempo como eu quase.
Ismael: Sim, como referi, eu trabalhava no Filipe (Foca) e mesmo assim vinha fazer o fecho na Joconde. E este café é mesmo um marco em São Brás pois acho que já passaram por aqui todas as gerações dos últimos 20 e tal anos.
E quando é que vocês ficam à frente do Café?
Sofia: O Ismael passado uns tempos começou a trabalhar a tempo inteiro no café. Em 2004 os meus pais separam-se e o meu pai ficou com o negócio e passou para meu nome.
Oficialmente ficámos à frente do café em 2007, foi quando comprámos o nosso apartamento. Eu na altura fui trabalhar para a câmara municipal e o Ismael ficou no café. Mas mais tarde voltei para aqui.
Referiste há pouco que nunca alteraram o espaço. Achas que é uma forma inconsciente de preservar aquilo que o teu pai deixou?
Sofia: O meu pai era a alma do café. Mesmo quando me posso sentir cansada penso sempre que foi o meu pai queria. Não há 1 dia no café que não se fale do meu pai. Ele está em toda a parte. Foi muito difícil a sua partida.
Ismael: Cheguei a ser influenciado a ver bola e até a mudar de clube, antes era do Benfica e ele reverteu-me para o Porto. Foi um grande homem.
Qual foi o motivo de colocarem o nome Nestor no vosso filho?
Ismael: Porque fui ver o significado do nome e significa “aquele que retorna” e a partir daí ficou decidido. Nem houve mais volta a dar.
Em relação à Joconde quais são os vossos objetivos?
Ismael: Manter a porta aberta. De certa forma vamos criando uma ligação com os clientes, vamos fazendo amigos. Apesar de ser difícil lidar com certas situações, vai valendo a pena.
Sofia: O meu principal objetivo é poder comprar isto aos meus irmãos. Sou incapaz de me desfazer do café pelo meu pai. Eu considero esta casa uma família e as gerações vão mudando. E o espaço mantém-se sempre o mesmo, apenas vamos mudando algumas cores.
Ao fim de 22 anos de amor qual é o balanço que fazem?
Ismael: 5 estrelas, não tenho a nada a dizer. Não há uma palavra que possa explicar isso.
Sofia: Ás vezes perguntam-nos se passados mais de 20 anos se ainda gostamos assim tanto um do outro… E eu explico, para já ele é o meu melhor amigo, confio nele e na minha irmã para tudo, de resto, sou muito reservada. Claro que tenho amigas, mas gosto muito de me divertir com o Ismael. E temos uma grande cumplicidade. Que venham mais 22 anos assim.