“(…) Estou e estarei sempre disponível para servir o povo de São Brás”.
Renato Edmundo Proença dos Santos nasceu em Lisboa, em 23 de outubro de 1952, Licenciou-se em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa. Especialista em Medicina Geral e Familiar, com o Grau de Consultor e a Categoria de Assistente Graduado Sénior, correspondente ao topo da Carreira Médica no Serviço Nacional de Saúde. Aposentou-se em 2019.
Para além da prática clínica no Centro de Saúde de São Brás de Alportel, desempenhou funções relevantes no âmbito institucional e científico, nomeadamente: no Grupo Coordenador do Algarve do Programa Nacional de Controlo de Hemoglobinopatias; na Comissão de Ética para a Saúde da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve; na Equipa de Coordenação Regional dos Cuidados Continuados Integrados da ARS Algarve; no Grupo Técnico Regional da Governação Clínica e de Saúde nos Cuidados de Saúde Primários; no Grupo de Trabalho para o desenvolvimento do Registo da Morbilidade em Cuidados de Saúde Primários; no Grupo de Coordenação Regional do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e Resistência aos Antimicrobianos; no Conselho Executivo da Unidade de Farmacovigilância do Algarve e do Alentejo.
Foi Coordenador do Núcleo de Monitorização e Análise de Medicamentos e Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica da ARS Algarve; Assessor do Conselho Diretivo da ARS Algarve; membro representante da ARS Algarve na Comissão Nacional de Farmácia e Terapêutica (Infarmed), e Presidente da Comissão de Farmácia e Terapêutica da ARS Algarve.
Foi moderador e prelector em Congressos, Encontros, Formações e Workshops, sendo autor e co-autor de diversos trabalhos de investigação/divulgação publicados na Imprensa Médica.
Foi Candidato à Presidência da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, pela Coligação Democrática Unitária (CDU), em 2001 e 2013. Foi cabeça de lista pela CDU à Assembleia Municipal de São Brás de Alportel em 2005, sendo eleito para a mesma.
É membro fundador da Associação de Defesa do Ambiente e do Património Cultural de São Brás de Alportel (Al-Portel), tendo ocupado o cargo de Presidente e de Vice-Presidente da Direção.
No âmbito cultural tem colaborado com o Museu do Traje Algarvio e, pontualmente, com a Câmara Municipal de São Brás de Alportel.
Dedicando parte substancial do seu tempo à actividade de Escritor, publicou as obras: Da Arábia ao Al-Andalus (História, 2008); O Segredo da Fonte Santa (Conto, 2009); O Luar de Sha’ban (Romance, 2013); D. Dinis e o Segredo do Templário (Romance Histórico, 2015); Henrique O Navegador e os Aventureiros de al-Ushbûna (Romance Histórico, 2021). Mantém-se activo na Escrita, estando para breve a publicação de nova obra.
ENTREVISTA
Natural de Lisboa, o que recorda da sua juventude na capital?
Recordo-me das brincadeiras próprias da juventude, também gostava de tocar e cantar, ia muitas vezes ao cinema e ao Teatro. Fiz parte de uma coletividade onde tinha várias atividades e foi onde aprendi a tocar guitarra. Mas a biblioteca era realmente o meu local preferido.
Durante o tempo do fascismo havia muita censura, mas naquela biblioteca havia todo o tipo de livros e eu lia tudo o que conseguia pelo grande prazer que tinha e tenho pela leitura.
Dos estudos no Liceu Passos Manuel até à Faculdade de Ciências Médicas como foi passado esse tempo?
Foi um tempo de muito esforço! Aos 15 anos comecei a dar explicações para ganhar uns tostões e pensar no meu futuro. Fazia muitos km’s por dia para ir de um lado ao outro da cidade dar as referidas explicações.
Passei muitas noites a dormir muito pouco, a estudar e a trabalhar como explicador, mas tinha que ser, os meus pais não tinham disponibilidades financeiras para me colocar a estudar e eu queria continuar os estudos.
A Medicina foi algo que sempre quis?
Nem por isso! Eu era apaixonado por História! Mas durante uma aula prática (Ciências Naturais) no liceu, em que tínhamos de dissecar uma rã, fascinou-me ver que a minha rã era a única que tinha sobrevivido, com o coraçãozinho ali a bater, foi tão bonito ver o sistema de um ser. Foi aí que me deu o clique de que a medicina poderia ser interessante!
Uma vez que estávamos em contexto de eminência para ir para a guerra, pensei sempre que deveria fazer o curso de Medicina sem chumbar, para estar pronto como médico para embarcar e fazer aquela missão pelo bem e ajudando o próximo.
Mas não cheguei a ingressar a vida militar pois veio o 25 de abril.
E dentro da Medicina qual foi a especialidade que mais o cativou?
Eu gostava de tudo um pouco! Mas o que me apontou para a medicina geral e familiar foi o trabalho no serviço médico à periferia em que tinha de fazer de tudo um pouco e de uma forma autónoma.
Foi através da Medicina que veio para São Brás?
Sim! Exatamente! Atendíamos gente de toda a parte, o Centro de Saúde aqui era muito, muito concorrido mesmo! Desde Santa Bárbara de Nexe, Estoi, Santa Catarina, zonas periféricas e serranas, todos procuravam os médicos de São Brás.
De Médico a escritor. Como surge este capítulo na sua vida?
Tal como disse, eu sempre gostei muito de História, tendo-me sempre fascinado a história árabe e islâmica, de tal forma, que os meus livros estão todos ligados à história de Portugal e à sua relação com o povo árabe.
Tudo começou por um desafio lançado no Museu do Traje para debater alguns temas sobre a influência árabe e a sua expansão, chamavam-se “Conversas sobre os Árabes”. Tudo isso deu aso a deixar em papel toda a informação que tinha, tendo surgido o primeiro livro: Da Arábia ao Al-Andalus (2008).
Mais tarde, lancei o Segredo da Fonte Santa, que se trata de um conto sobre aquilo que considero a alma de São Brás, que é a Fonte Santa, publicado em 2009.
Depois comecei a escrever o Luar de Sha’ban, quando adoeci com leucemia, como não sabia quanto tempo iria durar, tentei acabá-lo o mais rapidamente que conseguia. Este livro foi muito importante para mim, pois deu-me motivação para continuar, eu na altura sentia-me um inútil e este livro ajudou-me a superar a doença. E quando dou por mim, estava a escrever um romance, já ia ser útil outra vez! Acredito mesmo que foi o livro mais importante que já escrevi.
Em 2015 surge outra obra, o D. Dinis e o Segredo do Templário, um romance histórico inspirado por D. Dinis, um dos maiores monarcas do seu tempo.
E no ano passado lancei o livro “Henrique O Navegador e os Aventureiros de al-Ushbûna” onde faço uma abordagem histórica do relacionamento entre portugueses e árabes, desta vez centrado nas figuras do Infante D. Henrique e dos intrépidos marinheiros mouros do Século IX, que terão partido de Lisboa e navegado pelo Oceano Atlântico.
E para breve ainda há-de-surgir outra obra!
Quem é o seu braço direito enquanto escritor?
O meu braço direito é a minha neta pois é quem me passa para digital tudo aquilo que escrevo. Não sou muito ligado a tecnologias. E é a minha neta (Ana Filipa) que também me sugere algumas alterações para tornar o conteúdo mais acessível a todos os leitores, funcionando como vox populi.
Também quero referir a ajuda do meu saudoso amigo Celso, dono de uma cultura verdadeiramente enciclopédica, era quem lia o meu manuscrito em primeira mão. O Celso era o meu principal crítico, no bom sentido, era muito elegante na maneira como fazia as suas sugestões. Quero deixar aqui o meu eterno obrigado.
Foi agraciado no dia do Município com a Insígnia de Mérito do Concelho. Sente que a missão está cumprida?
Eu penso que nunca foi uma missão, mas sim sempre algo feito de coração, com um único foco. Estou e estarei sempre disponível para servir o povo de São Brás. E claro, fiquei contente com o gesto simpático do município e muito grato a todos.