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27 Fevereiro, 2025 | Património

Loja Coelho

POR VALES DA MEMÓRIA

… À DESCOBERTA DAS LOJAS, EMPRESAS E CASAS COM HISTÓRIA

Município de São Brás de Alportel

Espaço da responsabilidade do Município de São Brás de Alportel – Pelouro do Património

Sugira-nos lojas, empresas e casas com histórias. Entre em contacto connosco: 289 840 019 / municipe@cm-sbras.pt

Loja Coelho

Prosseguimos o nosso caminho, por Vales da Memória…

Este mês fomos até ao nº25 da Rua Boaventura Passos, para visitar a Loja Coelho, que celebrou recentemente 25 anos de atendimento ao público.

De portas abertas desde 13 de outubro de 1999, a Loja Coelho começou por ser uma casa de costura, onde Inês Costa e Maria Paula Coelho faziam arranjos. Um negócio que surgiu depois de terem de sair de Angola, na altura da Guerra Civil Angolana, vendo-se obrigadas a deixar para trás a sua fábrica de malas e carteiras. Consigo trouxeram apenas uma máquina de costura, máquina essa que em Portugal permitiu que criassem o seu próprio negócio.

Na época, a pequena loja situava-se no nº 8 da Rua Dr. Virgílio Martins Coelho, onde hoje se encontra sediada uma empresa de Serviço de Apoio Domiciliário.

Gradualmente foram conquistando a sua clientela, mas a dificuldade em cobrar valores mais justos levou a que as duas costureiras mal conseguissem fazer face às despesas. Com 18 anos, a jovem Dália decidiu intervir a apoiar o negócio da sua mãe e avó. Jovem poupada e dona da sua independência, avançou com duzentos contos para que a loja passasse a ter, além dos arranjos de costura, artigos de vestuário para homem e senhora. Sem dinheiro para manequins e expositores, usou da sua criatividade e da habilidade do pai, mestre estofador, e juntos fizeram os seus primeiros expositores utilizando tubos de canalizador. Desde então, Dália passou a dedicar-se ao negócio de família, dividindo o seu tempo entre o seu trabalho enquanto chefe de mesa numa pastelaria e a Loja Coelho, onde se juntava à mãe no período da tarde. Tudo o que recebia investia em mais stock para o seu novo espaço comercial, onde era cada vez mais procurada pelos clientes que queriam as suas dicas e sugestões. Muitos eram os que lhe encomendavam aquilo que precisavam, confiando, mesmo sem ver, naquilo que Dália lhes traria do armazém. O bom gosto e a sinceridade desta jovem depressa cativaram clientes, e um ano depois Dália já tinha deixado a pastelaria para se poder dedicar a 100% à Loja Coelho.

Em 2002, Dália ficou grávida de Jéssica, a sua primeira filha. Entusiasmada com as roupinhas para a bebé, não tardou a trazê-las também para os clientes. Começou assim a ter estes artigos em loja, mas mais oferta traduziu-se em falta de espaço. Dália decidiu, por isso, mudar-se para a porta ao lado, um estabelecimento quatro vezes maior, onde hoje se encontra a loja Glamour. Empolgada e com o negócio a prosperar, quis que a nova Loja Coelho tivesse tudo a que tinha direito. Ainda grávida, reformou o espaço com as próprias mãos, com o apoio do marido e da família, instalou toldos, vinil nos vidros e orgulhou-se de ter, finalmente, os seus primeiros expositores, em madeira e inox.

Aos poucos, a Loja Coelho começou a vender também artigos para criança, a pedido dos clientes, que sempre foram “a bússola” deste espaço comercial. No entanto, estes eram comprados por encomenda. Foi em 2006, a convite da BWKids, que começou a ter coleções de roupa infantil. Com este convite surge um novo desafio, agora Dália tinha de escolher antecipadamente aquilo que o cliente viria a querer comprar um ano depois, quando a nova coleção chegasse. Um risco que Dália se atreveu a enfrentar, munida do seu bom gosto e do conhecimento que a experiência lhe vinha oferecendo.

O tempo foi avançando e muitas coleções passaram por ali. Até que em 2008 surge uma crise económica que alterou tudo. E se a crise já seria suficiente para baixar o poder de compra, a este juntou-se o encerramento do antigo supermercado Marrachinho situado ali bem perto, que consequentemente reduziu a afluência de pessoas naquela zona. A queda do negócio tornou-se cada vez mais evidente e fechar as portas chegou a ser uma hipótese em cima da mesa. Contudo, com mais um filho no colo (o pequeno Santiago), Dália decidiu que não era hora de baixar os braços, mas sim de se reinventar. Contrariando as expectativas de todos, decidiu mudar de localização. Se os clientes não iam até ela, então chegava o momento de ir ter com eles. Foi assim que a Loja Coelho mudou a sua morada para o nº 5 da Rua 25 de Abril, a norte do Mercado, onde é hoje está localizada a loja Babaloo.

Com uma loja melhor localizada, mas muito mais pequena, Dália percebeu que tinha de aproveitar o espaço da melhor forma. Investiu assim as suas poupanças em diversos painéis, que permitiram uma melhor rentabilização do espaço, dando-lhe, simultaneamente, um look mais moderno. Um esforço financeiro que rapidamente foi recompensado, fazendo-a acreditar que seguiu o caminho certo. Prova disso, foi o convite que recebeu da Tiffosi para ser representante da marca, e mais tarde, também da Mayoral, marcas de referência.

Com o negócio a prosperar, Dália começou a enfrentar um problema com o qual já se tinha debatido antes: a falta de espaço. Mais uma vez chegara a altura de arriscar…

A Rua Boaventura Passos, nº 44, onde hoje é a Brás Óptica, passou assim a ser a sua nova localização, mas os 150m2 tornaram-se, também pequenos em pouco tempo. Foi nessa altura que em 2015 Dália avançou para a abertura de uma segunda loja, mesmo em frente, na porta nº 25, acabando por organizar os espaços de forma a ter a roupa de adulto de um lado e de criança no outro. Surgiu também nessa altura a necessidade de ter as suas primeiras funcionárias, uma vez que ela e a sua mãe, o seu eterno braço direito “na loja e na vida” , não tinham já mãos a medir.

Tudo corria bem quando o destino ditou que as mudanças não terminariam por aqui. Em 2019, a pedido do proprietário do espaço, Dália teve de deixar o nº 44, onde tinha a loja dedicada aos adultos, voltando a fundir as coleções numa só loja.

Ao longo desta caminhada foram vários os altos e baixos que Dália Coelho foi driblando e contrariando, tendo como principais adversários a economia e o tempo ditado por São Pedro…

Mas nada a fazia prever aquele que considera o desafio mais difícil de todos: uma pandemia que a obrigou a fechar portas, com coleções inteiras por vender, e vários fornecedores a quem pagar. Com quatro pessoas a depender da sua loja, sabia que não podia baixar os braços. Muitas vezes sozinha, ia para a loja diariamente organizar os artigos e fazer originais diretos nas redes sociais, para assim conseguir escoar o stock. Aos poucos as coisas foram se recompondo e conseguiu desta forma colmatar as despesas. O envio de artigos por correio passou a ser uma constante dos seus dias.

Felizmente estas são agora dificuldades do passado que hoje, ao olhar para trás, sente que enriquecem a história desta loja que se orgulha de vestir três gerações de inúmeras famílias. Atualmente, com quatro funcionárias a seu lado, e a sua mãe já aposentada, Dália continua a liderar o negócio com dinâmica, sensibilidade e empatia, mantendo a atividade nas redes sociais e participando ativamente em todas as atividades e efemérides da comunidade.

Entre os seus sonhos para o futuro, está a possibilidade de encontrar um espaço com um armazém maior e, quem sabe, abrir lojas em outras localidades. Projetos que para já Dália pretende deixar em banho maria para cuidar da sua saúde que tem vindo, nos últimos anos a pregar-lhe algumas partidas. Com uma doença autoimune que tem despertado gradualmente, vê-se agora obrigada a abrandar. Dália aprendeu, a custo, que o descanso é tão essencial quanto o trabalho. Ainda assim, continua determinada, reconhecendo que os desafios fazem parte do caminho. Um caminho que continuará a ser feito com resiliência, disponibilidade e simpatia.


Não perca esta rota e descubra estes espaços tradicionais que fazem parte da nossa História! Pode descobrir mais no sítio do município em www.cm-sbras.pt

Coordenação: Marlene Guerreiro / Textos: Sofia Silva / Verónica Chapuça
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