
“Trocar a televisão por uma caminhada. As redes sociais por um livro. 3 cafés por dia, por um tomado na companhia de alguém que amamos.”
Não são os corantes num pacote de gomas que me vão fazer perder saúde. Nem o cloro da água da torneira. Também não vem mal ao mundo por um pouco de cádmio e alumínio dos utensílios de cozinha.
Achar que a acrilamida da batata frita é cancerígena é um exagero. Assim como não podemos passar a vida preocupados com os gases no ar que respiramos.
São só duas imperiais para relaxar de um dia intenso. Os parabenos nos produtos de higiene são um mal menor e os pesticidas dos alimentos são uma consequência de termos que nos alimentar.
Os antibióticos na carne e no peixe são em quantidade mínima.
Não há como ter uma casa limpa sem detergentes. Também não é por um analgésico que o fígado se vai queixar muito…
É interminável a lista daquilo que, isoladamente, parece não ser muito dramático.
O drama está, numa vida em que todos estes fatores coexistem em simultâneo.
Numa vida em que os agentes que nos permitem processar e eliminar – desintoxicar – estas substâncias, estão em carência absoluta.
O drama está na (bio) acumulação progressiva destas substâncias no nosso sistema e em como isso nos conduz a estados de saúde debilitados.
Nos nossos cerca de 200 mil anos de Homo Sapiens, os primeiros 99,5% do tempo lidamos com factores de intoxicação muito concretos – venenos de plantas, de fungos ou de animais e alimentos em putrefação.
Para combater isso, criámos um sistema de desintoxicação quase perfeito – um sistema que é capaz de isolar, processar, anular e eliminar substâncias perigosas e nefastas para o nosso organismo. Neste sistema, o rei chama-se fígado.
Parte desses tóxicos, são produzidos internamente pelo nosso metabolismo (endógenos) e devem ser desativados e eliminados: hormonas danificadas, colesterol ou a bílis. Outra parte entra no nosso corpo através da alimentação, respiração ou penetração de outras barreiras como são a pele.
Até há bem pouco tempo, o nosso sistema de “limpeza” estava totalmente treinado para processar essas substâncias, sem grandes desafios.
Nos últimos anos, e principalmente após a revolução industrial, começaram a ser produzidas substâncias químicas que desafiaram o nosso sistema de uma forma completamente nova – químicos industriais, metais pesados ou fármacos…
O nosso sistema biológico com programas super evoluídos de “inteligência natural” foi conseguindo dar conta do recado, mas cada vez com mais dificuldade.
Pela primeira vez o nosso fígado deparou-se com moléculas de mercúrio e chumbo ou com substâncias totalmente novas na natureza, produzidas em laboratório.
O fígado, lá se foi “atamancando” e encontrando forma de mandar embora esses venenos.
A guerra começou a perdê-la quando esses venenos começaram a diversificar e a entrar por todos os lados, em todos os momentos.
Piorou quando somamos a ausência de matéria prima para que possa fazer um bom trabalho – minerais como zinco e selénio, vitaminas do complexo B, microbioma saudável (bactérias que vivem no nosso corpo), alimentos diversificados de origem natural…
A derrota final, consumou-se quando trocámos natureza por meios urbanos, movimento por sofás, contacto real por ecrãs.
O stress que passou de agudo e momentâneo para crónico e constante, assim como o sono que no geral é débil e insuficiente, foram a estucada final num sistema cuja programação está acima do que qualquer sistema de inteligência artificial consegue reproduzir. Um sistema com origem há 500 milhões de anos, derrotado por uma sequência de decisões que nós humanos, tomamos todos os dias em função de uma falácia a que chamamos qualidade de vida.
O caminho para a saída deste labirinto é o caminho das decisões.
Decisões pequenas, que tomamos todos os dias. Que podem e devem ser progressivas para que o próprio stress não nos intoxique também ele.
Trocar um bolo de pastelaria por um bolo caseiro. Que mais tarde podemos trocar por uma maçã. Em que o próximo passo é trocar essa mesma maçã, por outra de origem biológica.
Trocar a televisão por uma caminhada. As redes sociais por um livro. 3 cafés por dia, por um tomado na companhia de alguém que amamos.
Aprender a parar. A desfrutar dos pequenos momentos que a vida nos oferece todos os dias. A passar mais tempo na montanha, na floresta e na praia.
Tudo isto faz parte de nós. Somos nós. É o antigo, que esquecemos, mas pelo qual ainda estamos apaixonados. É decidir voltar ao essencial.
É viver na essência.
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Tiago Malta
Cédula Profissional 5336 | Ordem dos Fisioterapeutas – Osteopata: c-0031819
Especialidade: Psiconeuroimunologia Clínica (PNIc)