“(…)o Dr. João Dias, ele foi o grande impulsionador da Casa Lena vir a existir.”
Carinhosamente tratada por “Lena Benedito”, natural de São Brás, do sítio da Soalheira, a nossa convidada para a reportagem deste mês, conta-nos a história do sucesso da Casa Lena, um restaurante que nasceu de um pedido simples como uns ovinhos com chouriço do saudoso Dr. João Dias, que viria a impulsionar o nascer de um dos restaurantes mais notórios de São Brás de Alportel.
ENTREVISTA
Como foi passada a sua infância e juventude em São Brás?
Recordo os tempos na Escola dos Vilarinhos com a professora Juliana, fiz só até à 4 classe. Não quis estudar mais. Então fui para a Costura. Aprendi a costurar e a bordar e também aprendi com o alfaiate Romão. O que eu mais fazia era calças de homem. Gostei muito de aprender este ofício.
Aos 24 anos casei com o meu marido, o José Gualberto Benedito.
E como surge a restauração na sua vida?
O meu marido veio a herdar parte da mercearia e taberna da Senhora Guiomar da Gralheira que era sua tia e não tinha filhos. Era uma taberna antiga, até se vendia a bebida a copos e a mercearia a peso, nós fomos para lá em 1973.
Alterámos um pouco a mercearia, modernizando, tornando-a numa espécie de supermercado.
Depois um belo dia, chegou o Dr. João Dias, de uma vistoria, e perguntou-me se eu já tinha feito almoço para mim, disse-lhe que não, então pediu-me se podia fazer uns ovinhos com chouriço caseiro. E eu fiz. Meti a mesa, preparei o almoço e o Dr. saiu de lá deliciado!
No dia seguinte, liga-me o Dr. João Dias, outra vez, a dizer que ia almoçar com o Dr. Cabral e o Enfermeiro Franco. Liguei ao meu marido, com os telefones que havia na altura, muito aflita, pois não tinha nada para fazer de almoço e ainda tinha que cuidar da mercearia. O meu marido foi logo ao talho, comprou umas bifanas, e então lá preparei o almoço. Comeram e ficaram lá o tempo que quiseram, encantados da vida!
E a partir daí, foi todos os dias, vinha sempre o Dr. João Dias com mais colegas do Centro de Saúde ou do Hospital. Tive que começar a arranjar toalhas, pratos, copos. E assim foi até ao momento em que percebemos que poderíamos fazer dali um espaço com boa comida! Mas havia o dilema se continuávamos com a mercearia ou não. Primeiramente, tentámos, mas depois optámos por ficar só com o restaurante. Felizmente, começámos a ter muita clientela, as pessoas gostavam da comida e sentiam-se ali bem.
Na verdade, começou tudo, com o Dr. João Dias, ele foi o grande impulsionador da Casa Lena vir a existir.
Como eram os dias no restaurante?
Eram sempre dias de muito trabalho. Havia sempre uma mesa reservada para o Dr. João Dias e outra para o Sr. Manuel Jacinto e os seus filhos.
Ao início não tínhamos empregados, para além de ser a cozinheira, tinha que servir à mesa, fazer as contas, a minha sorte foi a ajuda do meu marido em algumas compras e dos meus filhos que foram sempre auxiliando no restaurante. Mais tarde, viemos a empregar algumas pessoas, quero aqui mencionar a Dália, que esteve connosco e até hoje diz que a tratámos como uma filha. É muito bom sentir esse reconhecimento.
Fomos sempre melhorando as condições do espaço, aumentámos algumas partes, criando até um parque de estacionamento. Mais tarde, a minha sogra e o marido vieram da América e ensinaram-nos a receita da Paella, um prato que marcou a história do nosso restaurante. E me ajudaram bastante.
E foi assim durante 18 anos! Foram os melhores tempos da minha vida, mas também muito cansativos!
Quando disse que queria deixar o restaurante, os médicos pediram-me para não me ir embora, tiveram muita pena que eu saísse. Mas continuámos amigos na mesma.
Estando agora na altura da Páscoa, que pratos recorda de fazer nessa altura?
Na altura da Páscoa havia sempre pratos de cabrito, borrego à casa, a deliciosa paella havia sempre. Normalmente, fechávamos sempre ao domingo, abri uma vez, mas não havia condições para receber tanta gente.
As pessoas gostavam muito dos nossos pratos, desde o cozido à portuguesa, feijoada, arroz de pato, lombo de porco, bifinhos panados, cabrito, paella por encomenda entre tantos, havia sempre boa comida!
– Disse que o Dr. João Dias foi o grande impulsionador da Casa Lena. Qual foi a importância que essa motivação teve para si?
Sim, é verdade. Ele foi acima de tudo um bom amigo. Por onde passava, recomendava sempre a nossa casa, trazia aqui os seus amigos, filhos, o irmão, toda a gente que ele gostava. Chegou a trazer o Presidente da Câmara de Alcoutim, o Dr. Francisco Amaral, também um amigo seu do Partido Comunista, o Dr. Carlos Brito.
Realizámos vários eventos também, um deles, para mais de 300 pessoas, nas laranjeiras, claro! Era a adoração do Dr. João Dias. E nós alinhavámos. Éramos como uma família.
Quero também salientar que para além do Dr. João Dias, também houve muita amizade e apreço, pelo Dr. Cabral, Dr. Renato, Dra. Carmo, Dr. Emídio Sancho, Dr. Calé, Dra. Margarida, Dr. Sebastião, Dr. Celso, o meu compadre Franco (Enfermeiro) eram os nomes que mais frequentavam a nossa casa. Espero não me esquecer de ninguém. Foram todos importantes. Obrigada!
Quem diria que do seu pedido tão simples, vinha a fazer-se uma casa tão aclamada.