“(…) casei com um sambrasense e tive 4 filhos maravilhosos de que muito me orgulho!”

Olga Silvestre, 60 anos, a residir nos EUA, em New Jersey, conhecida dos sambrasenses como a Olga do Talho ou da Queijaria, trabalha atualmente na companhia aérea United Airlines, como Dispatcher/Lead, liderando uma equipa de trabalhadores “agents” nos EUA.

Veio viver para São Brás por amor, pois as suas origens são da Argentina e de Estoi, mas foi aqui que viveu largos anos e constituiu família.

Com o coração dividido entre os EUA e São Brás de Alportel, não esconde as saudades da família e dos sambrasenses.

ENTREVISTA

Olga, quais são as suas origens familiares?

Tanto os meus avós paternos como os maternos são portugueses. Os meus avós maternos são de Bordeira e foram para a Argentina durante a sua juventude e lá constituíram família. Os meus avós paternos são de Estoi.

O meu pai é português e nasceu em Estoi, tendo também emigrado para a Argentina. Eu, tal como a minha mãe, nasci na Argentina. Contudo, passei lá pouco tempo, pois os meus pais imigraram para os Estados Unidos quando eu ainda era bebé. Cresci e andei na escola em Nova Iorque. Aos 12 anos de idade, os meus pais resolveram ir para Portugal, mais precisamente Faro. Em Portugal, após terminar o 12º ano, formei-me na escola de agricultura DRRAG como citricultora.

Fui para S. Brás porque casei com um sambrasense e tive 4 filhos maravilhosos de que muito me orgulho.

Quando é que volta para os Estados Unidos?

Em 2014 voltei para os Estados Unidos de férias com a minha filha Ana Beatriz. Nessa altura, revivi toda a minha infância, foi mágico! Essa magia contagiou-me. Durante essa estadia, fui comer num restaurante português, e logo convidaram-me para trabalhar no escritório do Restaurante. Fizeram-me uma boa proposta de trabalho, a qual não consegui recusar e acabei por ficar. Várias oportunidades de trabalho surgiram rapidamente, tendo aceitado várias. Gostei particularmente de ter trabalhado num jornal Português, onde fiz várias traduções, mas atualmente estou no meu emprego de sonho, na UNITED AIRLINES.

Como foi a adaptação durante os primeiros tempos?

A adaptação foi mais fácil do que esperava, talvez porque este o meu sonho de infância era voltar às origens e a língua não me era estranha. Sou muito feliz aqui.

Difícil, foi a minha mudança dos Estados Unidos para Portugal aos 12 anos, não só pela barreira linguística, mas também pelas diferenças de conforto, que eram muito melhores em Nova Iorque. Nessa altura, em 1974, não havia água potável nem luz na casa da minha avó, onde vivi inicialmente. Foi um grande choque! Felizmente, um ano após a nossa chegada, o meu paizinho construiu uma vivenda com todas as comodidades básicas.

Se tiver que escolher entre os EUA e Portugal como fica o seu coração?

Adoro viver nos Estados Unidos, mas Portugal é o meu país de eleição, mais precisamente a vila de S. Brás de Alportel, onde tenciono passar a minha reforma, mas acho que vou sempre ficar dividida entre este imenso Oceano Atlântico. Portugal ou os Estados Unidos…

Como surgiu o Portal dos Queijos em São Brás de Alportel?

O Portal Dos Queijos foi um projeto maravilhoso onde pude colocar a minha imaginação e arte para renovar os tradicionais queijos de cabra. Todos os dias eu sonhava com novos sabores e novas variedades de queijo.

Os iogurtes foram também algo que me fez acreditar que em S. Brás se come Bem.

Tenho imensas saudades de atender os meus clientes que grande parte se tornou amigos para a vida.

Qual é parte mais difícil no meio do sonho que está a viver?

A parte mais difícil de viver nos EUA é, claro, viver longe dos filhos, do neto, dos pais e do Quiro, o meu cãozinho de estimação.

Felizmente, hoje em dia temos outros meios de comunicação pelo qual nos podemos ver todos os dias, o que ajuda a amenizar um pouco mais as saudades.

Lembro-me da minha mãe dizer, quando deixou a Argentina, que tinha imensas saudades da sua família que lá deixou. Mas nessa altura, apenas recebia uma carta por mês e nem conseguia ver ou ouvir os pais e a irmã.